Ser refugiado hoje é ser visto como diferente pela sua postura, crença ou forma de vestir ou de se alimentar! Ser refugiado hoje ou ontem não mudou muito porque a experiência que tenho do olhar do outro não mudou para melhor mas sim para pior. Nos anos 80/ 90, vivi a minha adolescência rodeada de vários refugiados legais ou não e a problemática era a mesma mas a sua imagem "social" era mais neutra. O refugiado era apontado do dedo e era diferente pela sua forma de agir e de estar.
Hoje, ser refugiado é ser cidadão do mundo, ser de nenhuma terra, perdendo raízes ao longo do tempo. Penso muito neste refugiados de Calais colocados em centros de acolhimento pela França. A dificuldade será integrá-lo uma vez que a própria sociedade francesa os exclui sem mesmo pensar na diferença... Também será necessário uma mudança por parte dos refugiados uma vez que lhes é permitido forjar uma nova vida, eles também deverão mostrar-se positivos à mudança!
A inclusão irá alastrar-se ao longo de vários anos mas a diferença deverá ser efetuada pelos refugiados e por nós!
Semear a igualdade para vivermos em harmonia!
Cara Anabela
Obrigada pelo seu contributo escrito de forma quase poética.
Gostava de me focar nestas suas palavras: "Também será necessário uma mudança por parte dos refugiados uma vez que lhes é permitido forjar uma nova vida, eles também deverão mostrar-se positivos à mudança!". Gostei muito desta sua sensibilidade e concordo em absoluto (faltará debruçarmo-nos um pouco sobre esses moldes de mudança)….
É um desafio que gostaria de lançar aos restantes participantes neste MOOC : como poderemos promover mudança nos refugiados? A que níveis? Com que limites? Será ético mobilizarmo-nos para isso? Que vos parece?
Boa noite, professora Marisa e colegas
A mudança não poderá ser imposta e deve ser promovida, numa primeira linha, por contágio dos gestos. A esperança residirá no meio termo, a meio da ponte. Poderemos passar uma mensagem de tolerância e de abertura, primeiro pela generosidade do gesto, depois pela coerência da mensagem.
Creio que mobilizarmo-nos para isso seria impor. A evolução das culturas conhecem momentos de rutura, no entanto a existir, a mudança de mentalidades deverá ser interna.
É possível conviver, sem perder identidade.
Cara Ema
Levantou também uma questão muito pertinente: "a convivência sem perder a identidade"….
Como poderá ser possível? Que meios teremos ao nosso dispor para facilitar essa convivência sem perder a identidade (a deles e a nossa, presumo).
Penso que pode ser um desafio para agitar este fórum que tem estado tão ativo nas últimas horas….
Sónia Seixas
Boa noite, professora Sónia e colegas,
Na minha casa convivem pessoas de diferentes origens culturais. Os meus filhos e sobrinhos do coração são maioritariamente muçulmanos dos PALOP. Não sei porque assim aconteceu, apenas posso dizer que o que nos aproximou foi uma linguagem de amor e de reconhecimento.
Um dos meus filhos do coração fez-me compreender a importância deste reconhecimento. O seu nome é Sirén, mas os "brancos" optavam por outros nomes, que embora sejam seus, não passam de apelidos familiares. O meu nome é Ema, não Pimenta.
À pergunta simples de como te chamas, ele respondia. Perante a estranha dificuldade de aprender um nome, as pessoas teimaram em chamar-lhe de outra coisa. A importância de um nome... Conquistei-o no dia em que passei por ele e o cumprimentei, tratando-o pelo seu nome. Estabeleceu-se uma ponte diálogo e ambas partes investiram na promoção de um encontro.
Por força das circunstâncias, todos os meus meninos tiveram de aprender a nossa língua. Eu, sem sucesso, tentei aprender Fula. Rimo-nos do meu esforço e da minha péssima pronúncia. Não importa que não tenha tido sucesso nessa aprendizagem, importa o gesto de tentar e dizer ao Outro que nos preocupamos e que estamos disponíveis para conhecer e aprender.
Partilho um excerto de uma pequena reflexão que realizei no âmbito da Pós-Graduação em Educação Social:
A comunicação é a base de entendimento entre os indivíduos, o conhecimento ou reconhecimento da cultura do Outro é igualmente necessário para que a comunicação seja, efetivamente, “uma ponte de significados que cria a compreensão mútua e a confiança, levando à aceitação ou não da mensagem transmitida, por parte de quem a recebe” (Pierobon, J.E., 2006, p.51 em referência a Marchiori, 2001, p.146).
Aproveito para me desculpar pela confusão com o seu nome, que só posso associar a um enorme cansaço, aquando a minha participação.
Referência bibliográfica
Pierobon, J.E.(2006). A Comunicação em Contextos Interculturais: A Excelência das Relações Públicas em Organizações Multinacionais. Universidade Estadual Paulista. Bauru, 2006.
Dra Sónia e Anabela, achei o vosso desafio é muito interessante porque nos obriga a pensar na inclusão a sério, a que constrói pontes em vez de guetos. Realmente, também penso que não basta que consigamos criar as condições essenciais à integração dos refugiados mas também é expectável que quem chega traga boa vontade, traga desejo de se integrar ou, pelo menos, de respeitar a cultura do país acolhedor. Há uns anos assisti a uma festa numa cidade nos arredores de Paris, Achères, que tem comunidades portuguesa e argelina, a Fête de l´Amitié. Foi um encontro muito bonito e festivo de partilha de hábitos gastronómicos músicas e danças dos países presentes. Era bom que estes momentos de partilha de hábitos/ saberes diversos, acontecesse frequentemente. Mas quando não é possível esta partilha, como fazer com que ela aconteça? Talvez aqui caiba o papel de associações, governamentais ou não que, nas zonas onde habitem refugiados, promovam a integração com a aprendizagem de novos saberes, da língua, por exemplo, ao mesmo tempo que estimulem nos refugiados a vontade de se integrar. Penso que a escola também pode desenvolver nos mais jovens a vontade de partilha.
Redes Sociais