Queria agradecer a todos a participação extraordinária que têm tido desde ontem, nomeadamente agradeço a partilha dos vídeos, artigos e bibliografia.
A este respeito destaco a questão muito bem levantada pela Denise sobre a "Psiquiatria Transcultural ou da Etnopsicologia" e a necessidade dos técnicos (mas também todos nós) serem formados para comunicar, interagir, e organizarem uma resposta terapêutica adequada em termos culturais, de forma a evitar o surgimento de obstáculos que decorrem do menor conhecimento das especificidades culturais dos Outros com quem estamos a lidar.
Realço o facto destes "atropelos culturais" (chamemos-lhe assim) poderem ocorrer nos dois sentidos….
Sónia
Boa tarde, cara professora
Um dos maiores obstaculos à integração plena das crianças refugiadas é sem dúvida a incapacidade do sistem de ensino português em ter a capacidade tanto a nível de recursos humanos como ao nível material de conseguir ter uma resposta abrangente para a resolução dos problemas que concerteza surgem quando uma criança chega a um país novo, como uma língua materna diferente da sua, e também ainda com uma cultura totalmente oposta à qual estão habituados.
Serão necessárias muitas alterações ao que acontece hoje na escola pública para conseguir produzir uma integração de sucesso de ambas as partes.
Olá colega Isabel e demais colegas,
Concordo com você em perceber que a língua é uma das grandes (enorme) barreiras para efetiva integração no outro país.
Aqui no Brasil, especialmente em Brasília, onde resido, várias pessoas oriundas de Gana, Síria, Nigéria, Haiti chegaram há pouco tempo no país, em grande número depois de 2014, com o evento da Copa do Mundo, e enfrentam muita dificuldade com a língua portuguesa, assim como eu enfrentaria no país deles. Nossa rede pública de educação ainda não está preparada para receber esses sujeitos (sujeitos de direitos), nem crianças e nem adultos. Temos oferta de cursos de línguas (Inglês, Francês, Espanhol, Alemão...), mas nossa língua não compreendemos ainda como essencial de ser ofertada para aqueles que aqui chegam. E o ensino da língua portuguesa dentro dos moldes tradicionais da escola formal não atende as necessidades dos imigrantes e refugiados.
Estamos caminhando para a oferta, lentamente, mas pelo menos já existe a percepção da demanda e da obrigação do Estado de ofertar.
Eu penso que a maior dificuldade do ensino obrigatório, perante o integrar das crianças refugiadas, passa por verificar quais são as reais necessidades dessas crianças.
Tenho constatado junto de colegas que a sua maior preocupação é "como é que esta criança vai cumprir o currículo quando não entende português?"
Mas será que cumprir o currículo é a real necessidade dessa criança?
Não será necessário criar um currículo alternativo que lhe dê conhecimento da língua, que lhe dê um sentimento de pertença, que lhe dê segurança no meio em que se encontra??
Não será mais importante para essas crianças deixá-las brincar com colegas da sua idade, sem medo?
De facto a língua é sem dúvida um obstáculo para a compreensão de conteúdos curriculares.
Em Portugal há enquadramento legal para a situação de jovens que frequentam a escola e cuja língua materna não é o português.
Na minha escola já tivemos alunos chineses, paquistaneses, moldavos e ucranianos e todos eles foram integrados em turmas, com um aumento da carga horário e apoio individualizado para a aprendizagem da língua portuguesa. A par da aplicação deste direitos, a escola deve integrar estes alunos em projetos e atividades que são uma forma de os jovens fazer amigos, conversarem e aprenderem conteúdos de uma outra forma.
Julgo que conhecem esse enquadramento legal, mas deixo aqui a referência da Direção Geral da Educação.
http://www.dge.mec.pt/portugues-lingua-nao-materna#doc
Percebo perfeitamente o seu ponto de vista. Eu pessoalmente que sou filha de emigrantes portugueses tive o obstáculo da língua. É uma barreira incapacitante e nos molda de forma profunda. Deve haver acompanhamento e compreender a situação de cada criança. Se uma criança for bem acompanhada e se lhe dermos os instrumentos para ter sucesso e ultrapassar a sua incapacidade de comunicar, essa criança se tornará bem sucedida. Não devemos negligenciar uma criança só porque nasceu num país diferente.
Olá Professora, Isabel, Fátima, Eva e Maria;
Concordo convosco. A língua é deveras um obstáculo muito grande quando se chega a um país, apesar de considerar que há outras barreiras muito mais preocupantes e problemáticas, como o caso da discriminação, da retaliação, das diferenças sociais, culturais, sexuais, religiosas políticas, entre outras.
Realmente a Maria tem razão. O nosso sistema de ensino já tem recursos de um valor importantíssimo que protegem e ajudam os alunos provenientes de países de estrangeiro, com a implementação da disciplina de Português Língua Não Materna. (art.º 10, do decreto-lei n.º139/2012 de 5 de julhos, que refere "o currículo do ensino básico pode integrar a oferta da disciplina de Português Língua não Materna (PLNM), que tem como objetivo a aprendizagem do Português por alunos com outra língua materna." e art.º1, do Despacho-Normativo 30/2007, que "estabelece, no âmbito da organização curricular do ensino secundário, princípios de actuação e normas orientadoras para a implementação, o acompanhamento e a avaliação das actividades curriculares e de enriquecimento a desenvolver pelas escolas e agrupamentos de escolas no domínio do ensino do Português língua não materna.").
Eu sou professora desta disciplina e acompanho todos os alunos do meu Agrupamento de Escolas, desde o 1º ano até ao 9º ano, no Ensino do Português enquanto língua segunda e ajudando-os na sua integração escolar e social. Já, inclusivamente, partilhei alguns links de material e trabalho que faço neste sentido.
O que tenho observado ao longo dos anos, não só na escola onde estou agora, mas em outras é um desconhecimento total por parte da maioria dos docentes face a esta realidade. Para além disso, não há a preocupação de procurar estratégias para a integração destes alunos nas suas disciplinas, algo que está previsto na lei.
O carácter transversal da língua portuguesa como língua de escolarização deve ser uma preocupação partilhada pelos professores de todas as disciplinas, conforme previsto no art.º 6º do Decreto-lei n.º 6/2001, de 18 de Janeiro (ensino básico) e no art.º 8º do Despacho Normativo n.º 338/93, de 21 de Outubro (ensino secundário). "As orientações devem ser articuladas com os conteúdos curriculares não só da disciplina de Língua Portuguesa/Português, mas igualmente de todas as outras 16 disciplinas. O documento deve conter, ainda, sugestões de trabalho, deixando margem para as iniciativas das próprias escolas, em conformidade com os planos curriculares de escola e de turma. Deverão ser criadas as condições necessárias à rentabilização das experiências das escolas, fomentando o intercâmbio de ideias, de materiais e de experiências, no quadro de uma rede de escolas a criar."
Para além disto, não há a preocupação da maior parte dos docentes de Português em realizar formação neste âmbito, de modo a estarem preparados para a lecionação desta disciplina. Eu realizei cerca de 200 horas de formação nesta área e agora encontro-me a realizar uma oficina de formação do Instituto de Camões.
É urgente mudar comportamentos e parte de cada um de nós contribuir com o que melhor temos para ajudar na integração destes alunos e adultos.
Obrigada pela partilha.
Concordo inteiramente com o que escreveram neste fórum. Também sou professora de PLNM e tenho desenvolvido um trabalho que procura não só o ensino da língua como a integração dos alunos (e até das suas famílias) na escola/ na nossa sociedade. Apesar de sentir que o meu trabalho é importante e reconhecido pelos próprios alunos e por outros colegas, sinto que um dos principais obstáculos se prende com a dificuldade com que os professores das outras disciplinas sentem em trabalhar com estes alunos. Se, por um lado, percebo que não se sentem preparados para trabalhar com estes alunos (diferentes apenas por que não dominam a língua portuguesa como os restantes), por outro julgo que, na maior parte das vezes, também não há vontade de lhes darem a devida atenção. Embora o quadro legal criado pelo Ministério da Educação, especialmente para o ensino básico, preveja oportunidades de adaptação do currículo e, consequentemente, da avaliação destes alunos, são muitos os professores que preferem ignorar este quadro legal e tratar estes alunos como os demais. E os que mais me espantam na pouca tolerância são os professores que cresceram noutros países...
Olá colegas,
Fiquei muito feliz em ter contato com professoras que trabalham com PLNM. Parabéns professoras Adriana e Teresa! Lindo trabalho1 Nossas crianças, em todo o mundo, precisam de professores acolhedores e cuidadosos com as especificidades dos estudantes estrangeiros e que não falam a língua materna de nosso país.
Eu sou brasileira e trabalho na Educação de Jovens e Adultos, na cidade de Brasília. Nos últimos anos temos recebido muitos estudantes jovens e adultos na escola, sendo que a procura é pelo contato com a língua portuguesa. Muitos deles têm um elevado nível de formação, porém não tem domínio da língua, o que faz com que busquem turmas de alfabetização da EJA. No entanto, percebemos que o currículo elaborado e desenvolvido com nossos alunos brasileiros, muitas das vezes não é o mais adequado para os alunos oriundos de outros países e de outras línguas. Sendo assim, adaptamos a proposta do currículo, contextualizamos de acordo com a realidade, cultura, costumes, tanto deles quanto nossos. Está sendo uma rica experiência, mas precisamos de formação para toda a rede pública de educação, não apenas para professores de Português. Além disso, precisamos caminhar para a institucionalização do Português como Língua de Acolhimento ou Língua Não Materna, na rede e, para isso, precisamos avançar para a elaboração de políticas públicas de educação que orientem para tal oferta.
As crianças, nas séries iniciais e também ensino médio, não recebem nenhuma adaptação no currículo e são "incluídas" nas classes e cada professor "se vira", outros "não se viram" e, assim como as colegas falaram, não estão preocupados em buscar formação para atender essa demanda. Enfim, realidades parecidas! Mas, vocês já avançaram na lei. Isso é o primeiro passo!!!!
Abraço
Olá Fátima;
É sempre um gosto partilhar o conhecimento que possuímos e ter contacto com outro docentes e conhecer a sua realidade.
Não sei em que contexto se faz a formação no Brasil. No entanto, nós temos várias instituições que fazem formação por e-learning, no âmbito da Língua Portuguesa Não Materna. Por exemplo, neste momento estou a fazer um Curso por e-learning, através do Instituto Camões e tenho colegas de vários países. Vou partilhar consigo algumas ligações vos poderão ser úteis.
É um gosto conhecê-la e partilhar consigo.
Espero ter ajudado.
http://www.instituto-camoes.pt/formacao-e-investigacao/root/lingua-e-ensino/formacao-investigacao
http://cvc.instituto-camoes.pt/cursos/aprendizagem-e-ensino-de-portugues-lingua-nao-materna.html#.WB-CedSLSt8
http://www.dge.mec.pt/cursos-de-plnm-distancia-da-ciberescola
http://fcsh.unl.pt/ensino/pos-graduacoes-pt/ensino-de-portugues-lingua-nao-materna
https://www2.uab.pt/guiainformativo/detailcursos.php?curso=50
http://www.ed.uc.pt/educ/curso?id=11
http://www.universia.pt/estudos/unl/ensino-portugues-lingua-materna/st/230072
http://elearning-linguanaomaterna.dlc.pt/
Adriana,
Linda vc! Obrigada por compartilhar os links, irei olhar com cuidado e dividir com algumas pessoas da gerência da Secretaria de Educação aqui de Brasília, pois ainda não temos uma proposta de formação definida. Sua sugestão de e-learning é uma boa saída!
Abraço
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