Boa tarde!!!
O desafio posto por meio da reportagem da jornalista Catarina Santos, A Sul da
sorte, apresenta-nos mais uma vez a realidade com a qual nos deparamos
diariamente, mostrando que esta é uma realidade que não irá mudar, ou seja, a
necessidade de sair/fugir de um país em busca de melhores condições de vida em
outro local, permanecerá, porém é preciso buscar mudanças nos processos de
acolhimento, na forma como percebemos o Outro, entendendo que também somos
Outros e que precisamos nos colocar no lugar deste Outro e acolhê-lo como
gostaríamos de ser acolhidos em outro país.
Para além desta percepção elementar, como bem fala a entrevista, já não é momento de acreditar que este é um fenômeno passageiro e, que apenas algumas operações de emergência serão suficientes, não desmerecendo o que é feito de forma alguma, pois tem que existir um começo, porém é preciso avançar, percebendo a temática dos fluxos migratórios como algo estrutural. E, ainda, como já foi citado por várias pessoas nestes últimos dias, este não é um processo voltado apenas para os refugiados, no sentido de acolher, mas sim para toda a comunidade envolvida naquela situação, por meio da sensibilização para tal questão. Destaco parte da entrevista para reforçar este entendimento.
“O que implica que se encare o fenómeno da imigração como algo estrutural. “Não faz parte de uma emergência, não é apenas a operação Mare Nostrum, não é apenas um ministro ou um governo que priveligia isto, mas sim a evolução da história, da geografia”, sustenta. “Este povo tem de fugir dali, tem de seguir outro caminho e isto ninguém pode parar. Vêm e continuarão a vir, pedindo acolhimento”
Gostaria de ressaltar aqui que, sem dúvida nenhuma, o número de pessoas que buscam diversos países do continente europeu como local de refúgio é estratosférico, o que se coloca como um grande desafio para que tais países desenvolvam formas de acolhimento, e ao voltarmos nossa atenção para a travessia insana, porém necessária, do mar mediterrâneo, ficamos mais certos ainda dos desafios postos a tal continente. No entanto, outros continentes também recebem um considerável número de imigrantes e refugiados, mas em se tratando de políticas, programas, projetos e planos de ação, ainda estão em fase muito aquém do que já vem sendo feito por países da Europa, neste caso específico, pude constatar as ações desenvolvidas por Itália e, por meio da fala dos colegas, também o que acontece em Portugal, que atua em várias frentes, com Modelos de Intervenção, que se não são os melhores, mas são!. Já estão, de certa forma estruturados, precisando sim ampliar as ações e permanecer no processo de sensibilização da sociedade como um todo.
Trago esta análise na figura de uma cidadã brasileira que percebe há tempos a chegada de pessoas oriundas de outros países, necessitando de um “refúgio”, principalmente após o ano de 2010, com o terremoto no Haiti, e no de 2014 com a Copa do Mundo no Brasil, fazendo com que muitos que chegaram não retornassem mais para seus países, em especial os Ganeses e, atualmente, muitos chegam ao Brasil em busca de refúgio, devido á guerra na Síria, porém não encontram as melhores formas de acolhimento, por mais que se tenha uma visão de Brasil como um país acolhedor. Ainda carecemos de políticas públicas para que a efetiva integração e inclusão aconteçam, sejam elas nas áreas de saúde, educação, moradia, cultura, enfim, somos reféns de leis ultrapassadas que não atendem a demanda atual.
Nesse sentido, percebemos o acolhimento de refugiados ser realizado muito mais pela sociedade organizada do que pelo próprio Estado. O acolhimento, o diagnóstico das demandas iniciais, o apoio à nova realidade, o acompanhamento e apoio para o aprendizado da Língua Portuguesa, o encaminhamento para o acesso à documentação, o encaminhamento para o mercado de trabalho, o apoio a mulheres e crianças, orientações básicas e essenciais para sobreviver em um novo país. Dessa forma, percebo que as instituições da sociedade civil organizada envolvidas com estes processos, não se utilizam de um modelo único de intervenção, porém sempre partem do diagnóstico, caminhando para a perspectiva aqui defendida, CONHECER PARA AGIR!
Percebo que utilizam do Modelo de Intervenção em Crise, atendendo as demandas emergenciais, mas não deixam de avançar para um Modelo de Resolução de Problemas, promovendo o acesso a ferramentas que contribuam para a adaptabilidade ao novo local, bem como, para que desenvolvam a resiliência necessária a esta fase. Também percebo a utilização do Modelo Centrado na Tarefa quando auxiliam dos processos de obtenção de documentos, acesso a cursos de Língua Portuguesa, encaminhamento ao mercado de trabalho. Creio que todas estas metodologias coadunam com o Modelo de Organização Comunitária, pois envolve várias frentes, parcerias e atores voltados para a elaboração de planos de ação e ações propriamente ditas.
A intervenção social acontece não por meio de modelos únicos, mas pelo envolvimento de vários indivíduos dispostos à proposta de acolhimento, que já não é uma escolha e sim um dever de uma sociedade que se diz humana.
Espero e busco alternativas para que a cada dia nosso país e nosso micro espaço de atuação possam ser mais conscientes e comprometidos com a ideia de Acolher, Formar e Incluir Refugiados. Essa ideia deve ser global!
Foi um enorme prazer compartilhar de tantos conhecimentos e experiências com todos aqui.
Há um oceano que nos separa, somente isso! Seja Atlântico ou Mediterrâneo, ou outros. Mas, somos todos dignos de respeito, como seres humanos que somos!!!
Forte abraço!!
Cara Fátima
Muito obrigada pela sua reflexão. Muito pertinente e chamando a atenção para a necessidade de desenvolver políticas sociais - não apenas paliativas, verdadeiramente inclusivas e potenciadoras da autonomização.
Reforça o mote deste módulo, transversal nas várias intervenções, minhas e dos demais colegas: Conhecer para Agir. E essa é, sem dúvida, a principal mensagem que gostaria que todos e todas tivessem presente nas vossas ações futuras (quer individualmente, quer organizados colectivamente).
Que seja apenas um oceano que nos separa, mas que não seja um oceano intransponível!
Boa continuação aí pelo Brasil ;)
PSS
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