A reportagem mostra-nos a difícil viagem que estas populações fazem para chegar ao continente europeu, com uma percentagem de sucesso pouco visível. Como é possível que um conjunto de nações desenvolvidas permita que haja pessoas a morrer no mediterrâneo? O que se verifica é que estas operações são bem acolhidas, no entanto mostram-se insuficientes. Há, também, todo um conjunto de questões políticas que se prendem com um funcionamento pouco célere das instituições de decisão europeias. No entanto, com a chegada dos refugiados ao nosso continente, é necessário dar uma resposta rápida a todas as necessidades básicas destas populações. As instituições no terreno desenvolvem um trabalho muito bom, conforme se constata com o testemunho, através do qual verificamos que as necessidades básicas, como alimentação, a saúde, a habitação, acesso a água potável, estão satisfeitas. Após a visualização assaltam-nos questões como por que estão ainda tantos refugiados nestes campos? Por que demoram tanto tempo a conceder os documentos necessários? As respostas a estas necessidades estão plasmadas na reportagem e consistem numa resposta de uma rede social consubstanciada num efetivo trabalho de parceria entre todos. Após esta etapa, são encaminhados para países de acolhimento e passam a uma nova fase na qual é necessário serem criadas competências de intervenção que facilitem as linhas de ação para o acolhimento destas populações. Deste modo, os atores no terreno deverão discutir e analisar as lógicas de ação a desenvolver para a realização de uma intervenção social eficaz.
O termo “inclusão”, segundo David Rodrigo (Público, 17-03-2014) surge para designar algo novo, uma evolução. Ainda, segundo este autor, …“Não é só o indivíduo que tem de procurar em se integrar na sociedade/ comunidade / escola mas estas estruturas têm pelo seu lado de se modificar, de se aproximar do individuo. A inclusão é um processo interativo, e assim sendo, tem que ser avaliado em duas dimensões: o que é o indivíduo pode fazer para se incluir e o que é que o “lugar da inclusão” faz para o incluir”. Ou seja, a inclusão é a possibilidade de “pertencer”.
É importante o conhecimento da língua, de modo a que os refugiados possam aspirar a ter autonomia. Assim, a educação e a aprendizagem da língua do país de acolhimento é vital. Também a questão da habitação é importante, devendo os centros de acolhimento receberem estas populações de forma coordenada, quer sejam apenas indivíduos ou famílias. Progressivamente as preocupações devem centrar-se em questões como a integração destes indivíduos no mercado de trabalho, apoiá-los a encontrar habitação própria e fornecer-lhes também, caso seja necessário, apoio ao nível do sustento económico. Apoiá-los juridicamente, também, para a obtenção dos documentos e da legislação de interesse em vigor no país de acolhimento.
Hodiernamente, o trabalho social enfrenta um desafio enorme e tem um papel fulcral no contexto referido. Dá-se muita importância não só ao conhecimento teórico como também às metodologias para o trabalho social. Existem diversos modelos de intervenção no trabalho social dos quais se destacam alguns pela sua importância e influência na prática do trabalho social, nomeadamente, e só para nomear alguns, o de “Intervenção em Crises”, o de “Centrado na Tarefa” e o “Radical”. Estes modelos poderiam ser aplicados na situação em concreto visionada na reportagem em causa. Além destes três modelos destaco, também, os de organização comunitária, em especial, o local.
O primeiro modelo consiste num método de ajuda com o intuito de apoiar uma pessoa e/ou família de forma que os efeitos negativos, relacionados com a sua história de vida, sejam minorados e sejam incrementadas as possibilidades de crescimento, de novas competências. O segundo modelo destina-se a intervenções nas quais têm que estar reunidas as seguintes três condições: o problema de intervenção tem que se encontrar isolado, limitado e conciso; o indivíduo em causa tem de reconhecer a situação a intervir como um problema e desejar a sua resolução; o problema tem que ser acessível à ação do indivíduo. Também se propõe alcançar, num espaço curto de tempo, como o modelo anterior, os objetivos definidos concebendo uma preocupação maior com o problema do que com as causas. O último modelo destina-se a situações cujo enfoque da intervenção passe por uma intervenção social, por uma mudança radical, revolucionária, das condições estruturais da vida nos indivíduos ou comunidades. Neste o papel do assistente social é o de consciencializar a população, desempenhando a reflexão crítica um papel preponderante neste processo.
Os modelos de organização comunitária, nomeadamente o local, onde a comunidade é envolvida na intervenção e o assistente social é um elemento catalisador, coordenador da intervenção, tendo como objetivo final a integração e capacitar a comunidade. Os diferentes grupos da população são envolvidos na definição dos problemas e na estratégia da intervenção. A comunicação e a discussão em pequenos grupos são a estratégia adotada para a orientação na realização de tarefas.
Não existe um modelo único de intervenção social, devendo-se retirar o que há de melhor em cada um, aplicando-o na situação em concreto, articulando todas as forças vivas que atuam nos diferentes domínios.
Poder-se-ia responder a uma situação de inclusão de refugiados em Portugal seguindo a Metodologia “AFIR”, ou seja, Antecipar, Fomentar, Implicar e Robustecer. O trabalho de intervenção social deveria ser considerado primeiramente num plano nacional, no qual se poderiam identificar e potenciar os Concelhos para acolherem estas populações, baseando a escolha em fatores tão diversos como, por exemplo a baixa natalidade, o envelhecimento da população ou a existência/inexistência de infraestruturas básicas, como de saúde, habitação, emprego, entre outras e, também, as de cariz social. Posteriormente, ao nível concelhio e de segurança social com a identificação das entidades vivas, fossem estas públicas ou privadas. Nestas seria constituído um Núcleo Dinamizador que teria a responsabilidade de criar o programa de intervenção social ao nível local. Devia ser criado um plano de trabalho delineando e calendarizando as tarefas a desenvolver, para a criação de um Pré-Diagnóstico (discussão e aprovação) que, posteriormente, levaria à criação posterior de um diagnóstico. A partir deste levantamento, equipas de trabalho especializadas trabalhariam nos problemas identificados. Após o levantamento do diagnóstico passar-se-ia à criação do plano de desenvolvimento social (PDS), estratégico. A seguir a este plano deverá ser traçado o plano de ação que consiste na identificação dos projetos e intervenções previstas. Este documento tem que ser forçosamente realizável com a participação de todas as forças envolvidas ao nível local.
Um processo de intervenção social, com vista à inclusão de refugiados não é um processo fácil, bem pelo contrário. Implica muito mais do que boas vontades e voluntarismo. Implica, de facto, uma estrutura bem montada, já com provas dadas e fundamentada em teorias já testadas em situações práticas que ocorreram já noutras situações, com profissionais especializados nas suas diferentes áreas de intervenção e bem articulados. Só assim se poderá dar uma resposta eficaz a um desafio tão grande, complexo e problemático como este, dos refugiados.
Cara Ana
Excelente! Muito bem pensado, articulado e argumentado. É um gosto ler as vossas participações! :)
Concordo com tudo o que diz (os modelos, como já vimos, desde que adequados à realidade concreta pode ser um ou outro, o importante é fazer todo o trabalho de mapeamento e adequação). A metodologia AFIR é uma organização prática das modalidades de intervenção, pelo que é transversal a vários modelos.
Finalizo citando-a: "Implica muito mais do que boas vontades e voluntarismo. Implica, de facto, uma estrutura bem montada, já com provas dadas e fundamentada em teorias já testadas em situações práticas que ocorreram já noutras situações, com profissionais especializados nas suas diferentes áreas de intervenção e bem articulados. Só assim se poderá dar uma resposta eficaz a um desafio tão grande, complexo e problemático como este, dos refugiados".
Muito obrigada pela sua participação,
PSS
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