Bom dia
Em primeiro lugar, destaco a importância desta reportagem para percebermos, público em geral e mesmo técnicos que mais diretamente trabalham com estes grupos de pessoas, a real dimensão do drama vivido pelos que chegam e também pelos que recebem.
Parece-me lógico que o modelo de intervenção a aplicar nesta situação do refugiado que chega a terra alheia é, como já alguns neste fórum têm apontado o modelo de intervenção na crise, uma vez que nesta reportagem foi mais uma vez reforçada a forma inesperada e avassaladora com que os movimentos de migrantes pelo Mediterrâneo se foram alastrando, dando origem a verdadeiras calamidades, tragédias humanas, no mar e à chegada à terra.
A forma como efetivamente os italianos, neste caso, lidaram com a situação, aponta-me para um modelo humanista e existencial, a avaliar pela atuação das entidades envolvidas, empenhadas em encontrar uma solução que preservasse o melhor possível a dignidade humana, dentro dos preceitos do catolicismo predominante neste país. Ressalvo as palavras de Alessandro Rispoli, comandante do navio de patrulha Libra, "Salvámos estas almas do mar, estas 345 pessoas, e esta é a nossa missão, é o que nos importa". Não será, aliás, a única vez que se mencionará a palavra "alma" nesta reportagem...
Parece-me, no entanto, que apesar dos esforços envidados, há problemas estruturais no sistema de acolhimento italiano, registando-se falta de capacidade, procedimentos administrativos lentos e atrasos no registo de pedido de asilo. A melhoria deste processo passaria pela aplicação do modelo sistémico, que prevê uma organização eficaz com uma preparação mais eficiente dos agentes envolvidos e das estruturas responsáveis, visando o seu funcionamento pleno, ajustado à "matéria" com que se está a trabalhar, a "matéria humana", as tais almas de que se vai falando...
As parcerias são sempre um bom exemplo de funcionamento sistémico, pois conjugam competências e valências de trabalho em equipa num objetivo comum. O projeto VIAAS é paradigmático nessa acepção. É fácil reconhecer a diferença entre trabalhar com umas centenas ou com umas dezenas de milhares de pessoas, entre haver tempo de preparação e ser "apanhado" no mapa de movimentos massivos de seres humanos tão desesperados e fragilizados. Mas por vezes tudo começa por uma proposta de solução a que muitos se juntam com o seu know how, capitalizando a estratégia e promovendo a intervenção organizada.
No fundo, dito de outra forma, os princípios de ação da metodologia AFIR sintetizam o sistema "perfeito". Ressalvo particularmente os últimos verbos da lista (organizada e sequencial), Robustecer e Divulgar, inovadores em relação ao que já tinha abordado anteriormente, e extremamente valiosos do ponto de vista da manutenção, da continuidade de uma determinada linha de atuação promovendo, desejavelmente, o efeito mimético em cada vez mais entidades responsáveis e mesmo em pessoas comuns que se revejam nestas intervenções humanitárias. Afinal, o mundo está a precisar de se tornar mais Presente para o Outro.
Termino com uma das frases que considerei mais relevantes desta reportagem, proferidas pelo advogado do CARA Mineo e que aproveitei para título deste tópico: "As pessoas aqui são como uma grande família. Não há aqui um muro entre nós e as pessoas que estão cá dentro". Feitos da mesma matéria, todos são Almas.
Obrigada por esta oportunidade
Continuação de bom trabalho
Ana Água
Redes Sociais