Os refugiados deparam-se com uma série de obstáculos, desde que abandonam o seu paÃs de origem, até que chegam ao paÃs de acolhimento. Quando já no paÃs de acolhimento, muitas vezes são alvo de discriminação, exclusão social, crÃticas em relação à sua religião e cultura. Isto acontece geralmente porque os habitantes dos paÃses de acolhimento têm medo que terroristas integrem o grupo de refugiados e ponham em perigo a sua vida. Como há grandes diferenças culturais (que, se "aproveitadas", poderiam ser bastante enriquecedoras), há choques culturais com os quais os paÃses de acolhimento também não estão preparados para lidar.
Cara Marisa
Obrigada pelo seu contributo e por ter iniciado este fórum.Â
Efetivamente, a dar-se o caso de, no conjunto de tantos refugiados, poderem chegar até nós algumas pessoas com intenções criminosas, com planos de terrorismo, é um receio legÃtimo e um risco real… Mas em todas as culturas e grupos humanos, existem pessoas mais bem formadas e menos bem formadas. Num processo de acolhimento como este que atualmente observamos (contÃnuo e massivo) não é possÃvel verificar tudo e todos…Â
Esta questão remete-me para aqueles exercÃcios/dilemas éticos teóricos, onde somos por vezes confrontados com opções igualmente negativas mas onde "parece" existir o menor dos males numa delas (como por exemplo escolher uma opção onde morre apenas uma pessoa versus outra opção onde morrem duas centenas). O valor da vida humana mede-se? e mede-se quantitativa ou qualitativamente???
Como deve ter percebido pelo video de apresentação deste módulo, não existem respostas certas nem erradas a esta problemática, mas acima de tudo há uma grande necessidade de clarificar do que estamos a falar e de que variáveis pesam nessa discussão.
Obrigada uma vez mais…..
Boa noite, professora Marisa e colegas
Ao abordar esta situação de drama e flagelo, considero que é muito importante que os discursos se primem, não pelo que é politicamente correto, mas pela sinceridade nas palavras e nas intenções. Por tal, após ouvir a apresentação do módulo 2 e de ler estas primeiras participações, sinto igualmente vontade de agradecer, por quanto é importante  falar do medo, do perigo, que é real. Não falar do perigo por aquilo que representa, coloca-nos a todos em perigo. Infelizmente, muitas pessoas verbalizam este receio, associando-o a argumentos deveras hostis para com aquele que é diferente.
Igualmente importante será não caÃrmos na tentação de nos enaltecermos como comunidade que sabe receber, talvez o sejamos em comparação com outras culturas, mas não temos motivos para nos orgulharmos. Em pleno século XXI, a cor da pele ainda determina um sem número de reações que me espantam (a esperança pelo seu oposto renova-se ainda que com fraco alimento).
Vivo e trabalho num concelho que é um ponto de encontro multicultural. A atividade económica principal é receber. No entanto, ao longo dos anos constato que as pessoas perpetuam velhos e maus hábitos. Alugar uma casa não deveria ser difÃcil num concelho que conheceu, desde a década de 80, uma construção selvagem, desordenada. A verdade é que as casas permanecem fechadas a maior parte do ano, uma vez que foram edificadas para uma estadia temporária. Esta seria a minha dificuldade. Infelizmente, conforme testemunhei, para outras pessoas a cor da pele é uma dificuldade acrescida, num ato tão banal como alugar uma casa. Ainda o é.Â
Todos os dias tenho presente de como é difÃcil ser-se bem recebido, mesmo sem os referidos obstáculos culturais, religiosos, linguÃsticos. Talvez se deva, em primeira instância, ao egoismo crescente, à inversão de valores, em que a vida assume um valor relativo face ao que se possui ou que se pensa poder obter dos outros. A possibilidade de se perder para o outro também não agrada à maioria.
No vÃdeo de abertura, a professora falou em arranjarmos espaços para acolher uma prática religiosa diferente da nossa. Concordo em absoluto. No entanto, pergunto-me por que motivo(s), neste novo milénio, as instituições que acolhem crianças e jovens os privam da sua cultura e prática religiosa? Â
Acompanhei um jovem que em 2010 foi institucionalizado. Os primeiros meses foram difÃceis para ele, sobretudo quando começou o Ramadão. Pediu que lhe guardassem o prato de comida para que se pudesse alimentar ao cair da noite.  Eu pedi que o deixassem levar comida para o quarto. Não o autorizaram e o jovem acabou por passar fome até desistir do jejum. Era apenas um e nem assim foi possÃvel
Estes são apenas alguns dos obstáculos que os refugiados têm pela frente no nosso paÃs.
Fica a partilha,
Cara Ema
Algumas práticas (nomeadamente de cariz religioso) podem-nos parecer estranhas, distantes, patéticas até (temos certamente ouvido muitos discursos nesse sentido), posso até compreender (por uma questão de empatia) as dificuldades que alguns profissionais de educação (educadores e professores) possam sentir ao interagir com alunas que queiram usar o véu ou a burka, mas é inacreditável que se impeça um aluno de se alimentar porque a hora de alimentação não corresponde à estipulada na instituição. Nem falando em crenças e estereótipos, é uma questão de saúde!
Sónia Seixas
Boa noite, professora Sónia.
De facto é lamentável, mas é a realidade de muitas instituições e a inflexibilidade das regras dão origem a estranhos episódios. Este é apenas um exemplo, no meio de muitos, infelizmente. Apenas o consegui ajudar quando vinha aos fins-de-semana para minha casa.
A minha famÃlia cooperou para que nunca faltassem os produtos alimentares adequados para as suas refeições. Passámos a fazer o caldo verde sem chouriço (a primeira sopa que lhe fizémos) e mudámos os menús nos tempos de visita. Somente ao fim de seis anos é que nos apercebemos que o vinagre que usávamos para temperar a salada não era adequado.Â
Em relação à burka ou o véu, a minha única dificuldade prende-se com o "querer das alunas", se o querem muito bem, mas se lhes é imposto já me dói. Tenho uma amiga que se veste de forma diferente quando vai visitar a famÃlia a Marrocos. Ela é uma cidadã do mundo, mas para visitar a famÃlia tem de cumprir certas regras. Já fui com ela à s compras e ela explicou-me porque comprava determinada peça de roupa (sempre preta). Não tenho experiência com jovens na situação descrita, mas não concordo com o que fizeram em França. Sinto que desrespeitamos uma vez mais as mulheres, passando a ser também um problema nas suas vidas, já repletas de constrangimentos. Aquela imagem da mãe "despida" na praia, perante a filha e os demais presentes, revoltou-me as entranhas. Não pode ser esse o caminho...
Penso que esta questão com as mulheres é o meu "calcanhar de Aquiles". O desrespeito dos seus direitos e liberdades... É um problema para mim, mas não poderá ser um impedimento a prestar auxÃlio.
O medo também é um ponto sensÃvel, sobretudo pelos meus filhos. Já tive de mudar de comportamento nas redes sociais por ameaça velada à minha pessoa, fruto da minha ação junto da UNICEF Nigéria, aquando o rapto das menores que chocou o mundo. Inscrevi-me na plataforma "Bring Back Our Girls", assinei e divulguei petições, como fiz quando estalou o conflito na SÃria. Em resposta, tive três convites de "amizade", sem aceitar por se tratarem de estranhos, recebi a seguinte mensagem que constava da capa dessas pessoas: "I look calm, but in my mind i already killed you 3 times (ALLA Top Priority)". Mais tarde, tive de acabar com a função de seguidores que me permitia divulgar o meu blog, porque a dada altura me apercebi que, por entre os seguidores, tinha perfis de pessoas que exibiam armas. Nunca mais utilizei essa função.
É intimidante, apesar da distância. Confesso que tive medo, mas jamais pensei em hostilizar uma cultura e muito menos os refugiados. Eu tive medo e não me fizeram mal, só posso imaginar o horror pelo que essas pessoas passaram e o stress extremo que o terror provoca.
Não me considero uma pessoa corajosa. Não sei como farei para lidar com um medo que pode aumentar. Por ora, limito-me a não pensar nisso e procuro informar-me na esperança de melhores notÃcias e de nortear a minha ação.Â
Fica a partilha,
Ema Pimenta
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Ema,Â
foi muito bom poder ler o seu depoimento.
É muito triste perceber que não há respeito pelas particularidades que um jovem muçulmano agrega. Em se tratando do Ramadão é ainda pior pois é uma altura bastante especial e importante. Espero que o jovem possa ter superado tudo isso.Â
Em relação à mulher, o grande problema são os costumes e culturas de alguns paÃses. O véu, religiosamente falando, não é obrigatório no dia a dia. É obrigatório apenas em locais de culto e durante as orações. Muitas e muitas mulheres muçulmanas não usam o véu, o Hijab. A Burka e o Niqab (peças que cobrem o corpo e o rosto todo) são particularidades de alguns paÃses que manipulam a Sharia e o Alcorão. O grande problema está na junção de uma religião manipulada e a polÃtica de interesses. É pena que no meio de tudo isso estão pessoas comuns, como eu e a Ema. Isso é mesmo triste.
Quanto mais conhecimento temos mais facilmente combatemos os nossos medos e nos tornamos capazes de ajudar.
Parabéns pela coragem.
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