Cara Sónia e restantes participantes neste fórum
As vossas reflexões neste fórum em particular levam, inevitavelmente, a identificar o medo como um dos principais obstáculos ao acolhimento dos refugiados. E é, naturalmente, um medo sentido por ambas as partes, mas de formas diferentes.
Os que chegam, trazem as vulnerabilidades resultantes da sua condição, por isso tudo temem. Embora eu acredite que, depois de temerem pela própria vida e pela vida dos seus, depois mesmo de perderem parte desses entes e até a própria noção de identidade, o medo se transforma noutro tipo de angústia e de cansaço. A partir dali, julgo até que existirá uma certa torpeza e o medo será uma defesa para lidar com o desconhecido, mas será também talvez uma forma de equilibrar a esperança, a ânsia de encontrar um mundo novo que lhes devolva parte da dignidade perdida. É possível que algum desse medo resulte em fechamento e, noutros casos, em revolta, nem sempre percebidos por quem acolhe. Neste, por sua vez, reside a estranheza e o distanciamento emocional. O medo de acolher encontra, muitas vezes, justificação na aversão à mudança e na nossa própria vitimização ("quem nos dera a nós viver melhor, ter melhores condições, quanto mais para outros que nem conhecemos..."). Somos animais de hábitos e de rotinas, e mesmo a solidariedade tem o seu tempo próprio para acontecer - nem sempre é fácil entendê-la não como algo que depende menos da minha vontade do que da necessidade urgente do Outro. O facto de hoje não me apetecer fazer nada pelo Outro, não faz com que ele/a deixe de precisar de ajuda... Em última análise, quem recebe o refugiado, manterá a sua superioridade, mesmo que decida partilhar o que tem e o que sabe. Mas como nem sempre tem consciência disso, deixa também dominar-se pelo medo.
Não há certo nem errado, e nem deve haver julgamento. Pelo contrário, se ficarmos em cima do muro, veremos como ambos os lados podem ser legítimos. O desafio é ir derrubando os muros, até que ambos se possam ver e aceitar melhor, sem o peso da História, sem amarras culturais ou limitações sociais. E esse é o maior desafio do Mundo, esta crise de refugiados só vem lembrar e mostrar que ele está longe de ser superado e que ainda temos um longo caminho de aprendizagem até glorificarmos a nossa essência: o sermos Humanos.
Abraço!
Ana
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