Perante tantos acontecimentos, as representações sobre os refugiados surgem e adquirem uma dinâmica própria. Quais as corretas? Corresponderão à verdade? Ou apenas nos limitam na nossa abertura e generosidade em acolher o outro?
Ao olhar para os rostos dos refugiados é muito provável que muitos vejam o reflexo do seu maior medo: o de algum dia serem eles os "refugiados" dentro do seu próprio país. Isto não só em função da situação económica mundial que se faz sentir, mas também, devido aos crescentes episódios de violência que têm ocorrido, daí a limitação na abertura de refugiados. A associação que se faz é errada pois o desconhecimento sobre as diferentes formas de estar, ser e de hábitos de estilos de vida prevalece, a inércia política é evidente e perdura no tempo e o altruísmo está em falta naqueles que o deviam ter acima de tudo.
Olá,
O curta metragem é emocionante. !
Acolher é dividir para somar!!!!!
Depois de visualizar a curta metragem... cumpre-me dizer que é nos pequenos gestos que percebemos os grandes sentimentos!
Basta um sorriso e uma "simples" atitude para transformar um sonho em realidade... :)
Que mensagem tão breve e tão profunda!
Concordo plenamente consigo!
Olá,
Mais uma vez a problemática acentuada dos adultos é resolvida pelas crianças!
Tal como os refugiados, os primeiros emigrantes portugueses viveram dificuldades, enfrentando várias diversidades tais como partir para o desconhecido, não saber onde ficar, viver em condições de tipo "bairro de latas" e no entanto, a luta para uma vida melhor foi uma condicionante deste estado de espírito, como motor de ação! Hoje, a visão que os media nos apresentam os refugiados é comparável a um "homem pobre" que parte sem destino e nunca conseguirá chegar a bom porto. Difícil será de agir ou de lutar perante tantas paredes de betão construídas à volta dos refugiados pelas entidades políticas dos próprios países europeus que, também se esforçam em encontrar soluções viáveis. Assunto circundante e com soluções muito frágeis ainda tal como a criança que aprende a andar, titubeante!!!
Muitas corresponderão à verdade. Outras nem por isso. É como tudo! Todos merecem melhores oportunidades, até prova em contrário. O vídeo é a prova de que, afinal, há compreensão para além de esquemas políticos, religiosos ou outros!
É minha forte convicção de que somos manipulados para acreditar e aceitar determinadas "verdades", que umas vezes terão o objetivo de quebrar defesas e outras, de erguer barreiras. Isto acontece a um nível tal que nos custa conceber ou apreender a realidade.
É como, perdoem-me o exemplo, aquela etiqueta que nos ilude e desvia do facto de que, em algum momento da produção daquele produto, existiu o suor, sangue e lágrimas de trabalho escravo. A que realidade nos devemos então agarrar, certos de que a verdade nos chega a conta-gotas?
Existem princípios básicos a que devemos atender, ainda que o medo que sentimos seja um obstáculo a ultrapassar: o esperar o Bem, o desejar bem. Se temos medo, há que confessá-lo para que não ganhe força no escuro. Temos medo, mas temos igualmente amor pelo próximo e a empatia que ergue pontes entre o Eu e o Outro.
Foi o que mais me impressionou na visualização desta curta metragem: desejar que a criança ultrapassasse as limitações da sua própria condição, para que desejasse bem e no fim ser surpreendida pelo retorno do gesto.
Uma das questões que penso que importa refletir, assim como a colega Marta Valador disse, é o (des)conhecimento sobre o "outro" e da dura realidade que é ser refugiado. Vivemos sobre imagens construídas, paradigmas e representações que a comunicação social vai alimentado e que ajudam a aumentar a desconfiança e o medo. Parece-me, e não querendo ser dura, que não existe grande vontade de refletir e dialogar sobre a questão dos refugiados e estratégias para o seu acolhimento, muito na perspetiva de que " se não falarmos sobre um assunto ele desaparece."
Acolher o "outro" é, a meu ver, mais do que reconhecer-lhe direitos e padrões básicos de tratamento, é tentar ir ao encontro das suas expectativas, dos seus padrões culturais, do seu pensar, da sua língua, porque mais do que aprender o português é necessário garantir recursos que possam comunicar com os refugiados nas suas línguas maternas. Para facilitar o pensamento sobre esta questão basta, talvez pensar no que nos faz individualmente, com que cada um de nós se sinta bem acolhido quando vai, por exemplo, visitar outro pais: é o sorriso? a simpatia? o tentarem comunicar na nossa língua?
Colocarmo-nos nos sapatos do "outro" é um primeiro passo para a desconstrução e reflexão sobre o mesmo.
Parabenizo a coordenação do curso pela acertada escolha do video. Muito profundo e apropriado para a questão em debate. De acordo com o filme, mesmo sem ter o que usar nos pés, a criança pobre se esforça ao máximo para entregar o sapato que o outro deixou cair. E a criança, ao perceber que não teria como resgatar o outro calcado joga para o menino descalço para que possa formar o par. Ambos os meninos demonstram caridade, solidariedade, companheirismo, sensibilidade, afetividade e acolhimento. Lindo!!!
Aproveito a ocasião para concordar com as palavras da colega Carolina Silva quando diz que "vivemos sobre imagens construídas, paradigmas e representações que a comunicação social vai alimentado e que ajudam a aumentar a desconfiança e o medo". Eu sou um exemplo disto. Vivo constantemente essa realidade. Na qualidade de brasileira, vivendo em Portugal para estudar, a pergunta que mais escuto por parte de portuguesas da minha faixa etária (52 anos) eh: você vai voltar para sua terra ou pretende continuar vivendo aqui? Não me canso de responder o que elas querem ouvir: vou voltar para o Brasil, com certeza! assim que terminar meu curso, porque deixei em casa filha e marido. Em seguida vem a surpresa: você tem marido? e respondo em tom de brincadeira, mas tratando de uma questão que eh muito seria! (preconceito): sim, tenho marido e emprego, sou servidora publica e estou apenas afastada para estudos. Não vim aqui roubar emprego, nem marido de ninguém! Se uma pessoa como eu, que veio por livre e espontânea vontade para um pais estrangeiro sofre diariamente com o preconceito, imagino o que não passam essas pessoas que são vitimas da migração forcada... (desculpem os erros de grafia. O teclado do meu computador ainda não foi adaptado para o português. Não tem algumas cedilhas e acentos).
O Relatório Anual de 2015 "Tendência Globais" do Alto Comissariado das Nações Unidas refere que em 2015, o número de refugiados atingiu os 60 milhões de pessoas. O mesmo estudo refere, ainda, que 85% dos refugiados encontra-se em países de médio ou baixo rendimento, próximo à área de conflito.
Importa pois, refletir e agir não sobre estes números, só por si bastante expressivos, mas sobre estas pessoas. Que respostas visam, efetivamente, a inclusão destas pessoas e não apenas a sua integração?
A meu ver, a sua, efetiva, inclusão está dependente de uma visão integrada e individual sobre cada uma destas pessoas, da sensibilidade na avaliação das suas necessidades, interesses e sonhos e da promoção de projetos de vida que tenham em conta essas mesmas necessidades, interesses e sonhos.
"The Other Pair" representa o estar atento, o foco no outro e não só em nós próprios, numa abordagem simples e profunda.
Olá! :)
Bem, em relação ao vídeo, mais uma vez, as crianças as mostrar-nos a simplicidade e a genuinidade que tantas vezes temos dificuldade em ver.
Não tenho imenso conhecimento sobre a questão dos refugiados, daí o interesse neste curso. Porém, o que tem acontecido ultimamente, a meu ver, vem mostrar um dos grandes problemas da sociedade de hoje em dia: a falta de empatia, a falta de capacidade de nos colocarmos no lugar do outro. Porque a verdade é que se formos perguntar a muitas das pessoas que se opõe a acolher os refugiados e que estão "contra" os refugiados, o que fariam se estivessem na mesma situação, talvez dessem todas a mesma resposta, "saía dali", "procurava sair dali, colocar os meus filhos em segurança", etc. Apesar de tudo vivemos num cantinho à beira mar plantado, com muitos problemas, mas muito longe de realidades muito complicadas, perigosas e de risco, que nenhum de nós iria querer conhecer.
Claro que não será fácil para os diferentes países receber de repente uma enorme quantidade de refugiados, mas não me parece que não os acolher seja a solução. Afinal, antes de serem refugiados, são pessoas.
Os refugiados, apesar de todas as diferenças raciais, culturais, políticas, religiosas,... são em primeiro lugar, pessoas!
Muitas reacções contra o acolher dos refugiados são o espelho do desconhecimento, de aceitar o que nos é dito sem reflectir, de sentimentos de injustiça perante políticas sociais,... Como exemplo basta lembrar que apesar de nos dizermos um país social, somos os primeiros a apontar o dedo ao desempregado que vive "às custas do nosso trabalho".
Da mesma forma apontamos o dedo ao emigrante, ao estudante, ao bolseiro, ao doente, ..., ao refugiado.
A abertura do país ao acolhimento de refugiados não deve ser vista como um acto de generosidade, mas sim, como um dever. Falamos de pessoas que tentam "salvar-se". E da mesma forma que não se "nega um copo de água a alguém" é dever de uma nação não negar "a vida" a quem quer que seja.
A ajuda ao outro deve partir seja qual for a situação em que o outro esteja. Basta precisar de ajuda. Basta precisar. Se nos colocamos no lugar do outro percebemos que quando se precisa de ajuda não queremos ter de provar, explicar ou justificar. Quando alguém tem fome não faz sentido o preenchimento de um formulário a dizer que más escolhas foram feitas ou que situações más levaram a esta realidade, um prato de comida basta. Primeiro matamos a fome depois explicamos e justificamos o que quer que seja. E as crianças? Como temos coragem de julgar ? Por que deixamos passar a oportunidade de fazer o bem e ajudar a quem precisa? Seja um par de sapatos como o do vídeo, ou um prato de sopa, ou um país, um lugar para ser feliz. Ninguém disse que a vida era fácil mas já disseram : "Seja a mudança que queres para o mundo".
Tantas questões e tão complexas....
Acabei de regressar de Quios, onde existem três campos de refugiados....
Uma dos aspetos que mais me chamou a atenção foi a atitude das populações locais.....incomodadas com a situação e divididas sobre a forma como devem responder a esta situação.
Não são questões com respostas fáceis de encontrar.Agora a realidade é brutal, para os refugiados, claro, porque são refugiados da sua Pátria e porque são refugiados numa terra que os coloca numa tenda, ou num contentor, rodeados de arame farpado, segurança e de dúvidas....
Dar lustro aos sapatos não é suficiente, caridade também não.É necessário muito mais, talvez despertar aquilo que de mais belo temos dentro de nós, emocionar-mos e sermos capazes de sermos genuinamente solidários.
Boa tarde colegas,
o vídeo é de uma simplicidade avassaladora ... é de gestos simples que é feita a solidariedade...o menino que fica sem sandália e que cobiça o sapato polido do outro menino... o acaso faz com que o sapato fique para trás... o menino sem sandália tem um momento de alegria e de hesitação: fico com o sapato?!? não... vou correr e devolver o sapato ... a angústia de não conseguir devolver o sapato é compartilhada pelo menino que perdeu o sapato e que vê o esforço inglório do outro... decisão imediata: se não posso ficar com o par ficas tu...no final o sorriso compartilhado que une aquelas crianças.
o teu ganho, não é a minha perda; o teu ganho é o meu ganho também. é nisto que consiste a solidariedade, a partilha - é este equilibrio que nos mantém saudáveis (sãos de espirito, de alma,... do que cada um reconhece para si em termos espirituais).
e é esta forma de SER que tem faltado no caso dos refugiados (e em muitos outros casos, mas agora falamos da tragédia que é a crise dos refugiados) em minha opinião...
tem faltado também o reconhecimento da responsabilidade internacional nos conflitos que estão na origem desta crise... o que per se seria o suficiente para que em termos de politica internacional obrigar os países a acolherem quem foge dos seus países por questões de guerra, de fome, etc. O principio da não ingerência para mim é muito discutível, principalmente quando coloca em causa a vida das pessoas, o seu bem-estar e a sua segurança...
é certo que as pessoas que residem nos países de acolhimento, na sua maioria, estão receosas e não estão informadas... mas também estão fechadas no seu próprio mundo... pois apesar de ligadas a tudo e ao MUNDO em geral pelas redes sociais... estão cada vez mais fechadas, acriticas, alienadas e como diria Durkheim vive-se um estado de anomia (perda do sentido de comunidade)... parece contraditório mas é o estado da arte ... isto de uma forma generalizada, claro...Conheço situações de verdadeiro heroismo nesta crise dos refugiados
Continuam-se a perpetuar tragédias atrás de tragédias, mortes atrás de mortes, fome... e só se "assobia para o lado", só se arranjam infernos burocráticos ou pseudo diplomáticos...e não se tem um atitude de prevenção... porque convenhemos era expectável, e a História recente demonstra-nos isso, que esta tragédia iria acontecer... mas a memória é curta
È necessário mudar mentalidades e, se calhar, uma via possível é demonstrar às pessoas, reavivar as suas próprias memórias ou as das suas famílias; em muitos países onde há mais resistência, para não dizer total fechamento aos refugiados, são países em que a maioria das populações passou por situações semelhantes ... mas também é algo traumático que as pessoas tentam esquecer/reprimir como forma de autopreservação e, por isso, as formas de sensibilização teriam de ser bastante ponderadas para não ter o efeito contrário: testemunhos de quem conta a sua história passada e depois faz o paralelismo com a situação actual; testemunhos de refugiados actuais e de como se sentiram bem acolhidos no país... sempre com um sentido positivo
Contudo, como muitos de vós já mencionaram nos vossos comentários, há que fazer a diferença todos os dias e cada um de nós ao tentarmos estar conscientes para o Outro, para aquele que é um reflexo de Nós (sim porque poderia ser eu - desculpem não é querer "roubar" o slogan do Programa da SIC), pode fazer a diferença nos atos mais simples... e a recompensa é compartilhar um sorriso!
Bem hajam e desculpem o desabafo
Concordo plenamente com o Nicolau Borges quando diz que "Dar lustro aos sapatos não é suficiente, caridade também não". Acho que este tipo de "solidariedade" não resolve o problema na sua raiz. A questão é bem mais complexa se tivermos a coragem de assumir que conflitos regionais como na Síria são também da responsabilidade de grandes potências com responsabilidade na ONU. Assim é difícil acreditar que quem tem poder possa contribuir efetivamente para a resolução deste problema que já tem uma escala global.
Talvez seja esse o caminho "despertar aquilo que de mais belo temos dentro de nós, emocionar-mos e sermos capazes de sermos genuinamente solidários", como diz o colega.
Boa noite
Peço desculpa por só agora poder aceder ao curso e ao fórum, mas por motivos de saúde não pude iniciar mais cedo.
Tenho recebido no meu mail, as várias reflexões e opiniões dos colegas sobre o tema. A dimensão deste problema mostra-nos por um lado um caminho demasiado sombrio a que muitos de nós talvez ainda tenhamos que percorrer e por outro a fraqueza das lideranças que tendem a faltar nos vários continentes.
Estive durante alguns anos em França como docente destacado pelo ME de Portugal. Já em 2000 quando me deslocava a uma escola na cidade de Calais no Norte de França, para leccionar, podia observar tendas com centenas (talvez milhares) de refugiados que tentavam chegar a Londres, através de camiões de transporte de mercadorias que atravessavam o canal da mancha nos barcos e nos comboios de alta velocidade TGV, que faziam a travessia Calais-Londres através do túnel de caminho de ferro.
Pela cidade de Calais circulavam refugiados de várias origens, idades e género, vagueando pela pitoresca e não muito grande cidade aguardando a chegada da noite, para que pudessem tentar uma vez e muitas mais vezes entrarem em Inglaterra. A "Selva" como é dominada actualmente a mesma zona, mas desde à alguns anos com mais alguns milhares de tendas onde se abrigam milhares de refugiados e outros tantos "milhares de sonhos, expectativas, desilusões,.." num incompreensível impasse politico na resolução desta situação, sabendo-se que o governo inglês rejeita a entrada destes refugiados e o governo francês tenta que algumas cidades francesas possam acolher grupos de refugiados, situação que tem esbarrado no muro da resistência e da intolerância dos governantes locais e das populações.
E nestes quase 16 anos que medeiam o meu primeiro contacto com esta realidade em Calais e a realidade presente, pouco ou nada foi feito em Politicas Públicas governamentais por parte dos países directa e indirectamente relacionados com esta situação.
Certamente que o diálogo e a acção concreta ainda não estão esgotados e todos nós somos poucos nesta acção.
Uma noite tranquila para todos vós, desejo que deixo igualmente aos milhões de refugiados que se encontram no Líbano, na Grécia, na fronteira da Turquia com a Síria, em França,na Jordânia, na Alemanha,...
Fiquem bem.
Cumprimentos.
Carlos
A história do clipe de filme é muito emocionante, o mesmo gira em torno de dois meninos que, em sua inocência, eles ensinaram uma lição para todos nós que é a humildade, generosamente, valões e caráter. Os personagens são: um pobre menino vestido com roupas esfarrapadas e outro menino que pareciam pertencer a uma família abastada. A história começou quando o menino pobre, desalinhado na aparência, estava tentando consertar o sapato rasgado quando de repente seus olhos focados em sapatos pretos brilhantes usadas por um menino semelhante à sua idade. O menino infeliz começou a sonhar se ele alguma vez poderia usar esses belos sapatos brilhantes.
Este vídeo nos ensina muitas coisas sobre a vida e o mundo em que vivemos. Se você tem a paixão para melhorar a vida em torno de você, Se você deseja fazer um impacto em constante duradoura, ilumina uma lâmpada para alguém, igualmente iluminará seu trajeto.
Lady Diana disse: "Realizar um ato
aleatório de bondade, sem expectativa de recompensa, com a certeza de que um
dia alguém pode fazer o mesmo para você".
Os refugiados são, em tudo, pessoas iguais a nós, que tiveram o tremendo azar de ver uma guerra instaurada no seu país e que, na ausência de melhor hipótese, tiveram que o abandonar. Deixaram para trás as lutas de uma vida, família e amigos que amavam, os seus bens materiais. Carregam malas cheias de pouca coisa, a bagagem maior é carregada no coração, e eu não consigo imaginar o que seria estar no seu lugar. Junta-se o pouco útil ao nada agradável e, para além de terem de caminhar para a frente quando têm tudo para trás, ainda são obrigados a lidar com a rejeição e a falta de solidariedade humana. E é incrível a crueldade do ser humano, o seu egocentrismo e a procura da solução mais cómoda para si, quando o bem-estar de uns se sobrepõe sempre ao bem-estar de outros. Mentalidades fechadas sobrepõem as suas conveniências àquilo que é correto e deveria estar implicado na convivência em grupo.
Urge a necessidade de abrir mentalidades e corações, de lutar por um mundo mais solidário e desviado do egocentrismo de cada um. Hoje por eles, quem sabe mais tarde não será por nós.
Caríssimos
Partilho de tanto do que já foi referido por vós nos comentários anteriores, das formas mais simples e imediatas de acolhimento, aos aspectos mais profundos desse processo que exigem tempo e trabalho de todos os envolvidos com o foco numa ideia de futuro para os que, inocentemente, viram o seu presente ficar à deriva.
Acabo de assistir, orgulhosamente, ao discurso do recém aclamado Secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, ouvindo-o falar da responsabilidade moral dos líderes das nações, e em última instância, de todos nós, em procurar soluções para alcançar a paz onde não a há e, por outro lado, mover acções de ajuda humanitária que permitam, neste momento já a curto prazo, salvaguardar a dignidade da vida humana como consequência desses conflitos por resolver. Ouvi-o também lembrar, como tenho ouvido desde que ocupou funções como Alto-Comissário para os Refugiados, que urge distinguir os grupos extremistas das suas próprias vítimas, apanhadas no meio de uma guerra e de um ódio incomensuráveis que não escolheram, particularmente as crianças, como poderia ser exemplo a do vídeo.
Já dei aulas de Português a grupos de estrangeiros, migrantes, muito poucos por opção. Dessa experiência de contacto tão directo, considero que aprendi mais com eles do que eles comigo. Estas pessoas, adultos e crianças, partilham connosco uma riqueza humanista e multicultural tão grande, que rapidamente nos sentimos compensados por tudo quanto lhes damos. Portanto, se formos suficientemente humildes e tolerantes com a diferença, certamente tiraremos ainda mais partido do seu acolhimento do que os próprios necessitados, como costuma defender António Guterres.
Uma boa tarde a todos!
Se estivéssemos na pele deles também queríamos ser acolhidos? Esta é também uma questão deveras interessante e pertinente.
Acolher também é...
…dar de si, sem querer nada em troca.
…receber sem olhar a raça, religião, crença política, nacionalidade ou grupo social.
…saber respeitar e cuidar, independentemente da situação em que alguém se encontra.
…saber compreender ou tentar compreender o outro.
…isto e muito mais.
Ao longo da semana, pude contactar com as variadíssimas opiniões dos colegas, acerca da curta-metragem “The other pair” e, de certo modo, todos temos a mesma opinião: é realmente inspiradora e motivadora.
A mesma reforçou a minha tomada de consciência, de que precisamos de mudar a nossa maneira de pensar. Ou seja, nós devemos desejar ajudar, partilhar e dar, sem esperar nada em troca. Com as atitudes das duas crianças do filme, aprendemos uma grande lição de vida: uma pequena boa ação, vale mais do que mil e uma grandes intenções.
Isto é o que vejo diariamente no trabalho que presto, enquanto docente de Português Língua Não Materna. É nos gestos puros e simples das crianças que se encontram num país que não conhecem, muitas vezes sozinhas, porque se encontram ao abrigo do estatuto de refugiado, tendo deixado ou perdido as suas famílias, que se aprende a acolher o outro, a respeitá-lo, a admirá-lo e quem sabe, a amá-lo. No entanto, estas crianças com quem lido diariamente, encontram-se unidas por esta mesma condição: a de refugiado, e por isso se unem, mesmo que não falem a mesma língua, mesmo que sejam de países diferentes, mesmo que tenham uma cultura, ou tradição, ou crença religiosa diferentes. Tudo isto não interessa, porque dentro da minha sala de aula, elas são todas iguais e ao terem gestos tão simples como darem um caderno ou lápis a um colega, ou ao conduzi-lo à casa de banho, ou ao levá-lo ao refeitório, mesmo que não falando a mesma língua, ajudam-se e partilham os mesmos sentimentos, porque se encontram na mesma situação e é nestes pequenos gestos que verifico que as crianças têm, de facto, uma alma bela.
Tal como esta curta-metragem, posso constatar diariamente que, num mundo em que os atos de violência são comuns e enchem as notícias, o gesto da criança pobre a correr atrás do comboio para devolver o sapato ao menino rico (Gandhi) e este a tirar o outro sapato, para que o menino pobre ficasse com os dois, são verdadeiramente lindíssimos exemplos de como atos comuns de bondade, podem encher o mundo com amor.
E deveria ser assim que o conceito de refugiado deveria ser desmistificado, com verdadeiros e puros atos de bondade, com grandes atos de compaixão e generosidade, tal como os atos que estas duas crianças mostraram no filme.
Deixo-vos com um discurso de Mahatma Gandhi, que espelha aquilo que devemos fazer para melhorar um pouco o mundo.
Mergulhe em si mesmo
Temos medo de estarmos connosco, mergulharmos no nosso interior. O silêncio e
sua prática leva-nos a esta possibilidade de encontro profundo e revitalizador.
Com o silêncio, encontramos a paz e o amor incondicional vem com toda a força
transformadora. O amor é a força mais subtil do mundo. O mundo está farto de
ódio. E é este ódio irracional e distante da força criadora que destrói, corrompe
e ensurdece a humanidade.
Pare! Recomece! Reprograme-se...
O silêncio pode ser o ponto-chave desta nova caminhada. Pratique-o diariamente e transforme um pouco o nosso mundo. Ouça-se.
Temos de nos tornar a mudança que queremos ver no mundo. Tu tens que ser o espelho da mudança que estás propondo. Se eu quero mudar o mundo, tenho que começar por mim.
Pratique diariamente o silêncio da paz. Respire profundamente algumas vezes. Inspire e sopre lentamente até ir relaxando e mergulhando dentro de si mesmo. Feche os olhos e silencie os seus medos, preocupações e ansiedades diárias, por alguns momentos. Dê a uma hipótese à sua paz e à paz do mundo.
Faça a sua parte, doe-se sem medo. O que importa mesmo é o que tu és...
Mesmo que outras pessoas não se importem. Atitudes simples podem melhorar tua
vida.
Tu nunca sabes que resultados virão da tua ação. Mas se tu não fizeres nada, não
existirão resultados. Espalha esta ideia.
Transforma o mundo, a partir de ti. Sê a mudança que tu desejas para o mundo.
Mahatma Gandhi
https://youtu.be/Svx12XptdVE
Mensagem profunda e absorvida silenciosamente a da curta-metragem.
“Acolher”, recolher e receber com agrado sem se nos refugiar na Humanidade incompleta. Desígnios desafiantes para os próximos tempos. Não chega acolher, é necessário um planeamento estratégico e planeado para que se descodifiquem silêncios.
No final deste ano 2016, Portugal chegará aos 5.000 refugiados!
Permitam-me desconstruir esta ideia em 3 pontos:
1) É claro que a "base" do problema está, efetivamente, nos conflitos no local de origem; quanto a este aspeto, poucos de nós podem fazer concretamente alguma coisa, além de se revoltarem com os "grandes" do mundo que insistem em desvalorizar vidas humanas; mas gosto de pensar que essa revolta, essa denúncia (por exemplo através das redes sociais) é capaz de agitar as mentalidades e, de alguma forma, sensibilizar o mundo para o problema, mesmo não o resolvendo.
2) Há um problema grave também nos primeiros países de asilo aos quais os refugiados chegam, patentes nas imagens e relatos das vidas nos "campos de refugiados". E aqui, mais uma vez, não há muito que cada um de nós possa fazer face à hipocrisia de uma Europa que já há muito prometeu números de reinstalações que está muito aquém de ver cumpridos... Há ainda a opção de "ir para a linha da frente" e, nesses campos, ajudar quem deixou tudo para trás, tentando dar alguma qualidade à espera, às portas de uma vida, que eles anseiam melhor.
3) E depois há o problema da pouca recetividade da sociedade civil nos eventuais países de acolhimento. É aqui que todos e cada um de nós pode ter um papel ativo, desde a clarificação dos mitos que giram à volta desta questão (sobretudo procurando fazer ver que muitos dos preconceitos que se alimentam são fruto do medo do desconhecido e mostrar que "eles" podíamos ser nós...), até mesmo ao abrir das nossas portas, ao descalçar do sapato para dar a esses que precisam.
O desconhecido, ao longo da história, sempre foi fazendo surgir mitos. Quando se trata de pessoas, também sucede que criamos mitos, suportados por preconceitos que vamos criando, seguindo o nosso impulso de catalogação.
No filme, provavelmente, fomos tomando posições anteriores, baseando-nos nossos preconceitos e mitos. Acredito que todos tenhamos sentido compaixão pelo menino de chinelos e estaríamos longe de imaginar que um menino aparentemente mais fútil, sempre preocupado com o brilho dos seus sapatos, viesse a tomar uma atitude de desprendimento e tivesse lançado o sapato para que o primeiro pudesse ficar com o par completo.
Somos muito guiados por preconceitos e mitos.
A educação intercultural promove a desconstrução de muitos desses preconceitos de vária ordem que temos em relação a pessoas provenientes de culturas diferentes e por nós menos conhecidas ou completamente desconhecidas.
Sobre questão «Perante tantos acontecimentos, as representações sobre os refugiados surgem e adquirem uma dinâmica própria. Quais as corretas? Corresponderão à verdade? Ou apenas nos limitam na nossa abertura e generosidade em acolher o outro?, levantada pela Drª Maria Antónia Lourenço, deixo o seguinte apontamento:
As representações dos refugiados que surgem são muito diversas e enviesadas, porque se trata de uma realidade que se reveste de grande complexidade e porque a situação política e económica a nível internacional assim o impõe. Acresce ainda que os Media não contribuem também para construção de uma imagem positiva dos refugiados, pois servem interesses muito particulares. Caso fizessem uma cobertura dos assuntos referentes aos refugiados que fosse positiva, tal contribuiria, decerto, para a construção de um clima de aceitação por parte do público em geral.
Anoto ainda que dimensão do número de refugiados ganhou proporções inimagináveis e o facto de baterem às portas da Europa numa vaga quase interminável, o facto de "incomodarem" a Europa, causa as resistências que são expectáveis e catapulta esta temática para o centro da cena política internacional, o que, decerto modo, é positivo e interessante, pois talvez a Europa e o mundo (Eg.: WEF-World Economic Forum e outros fora internacionais) dêem a devida atenção a este problema que a todos afecta, atendendo, de forma séria e sistematizada às assimetrias regionais que acabam por provocar estes fluxos, para além dos múltiplos conflitos que vão grassando por este globo.
As representações corretas em todas as questões sejam elas, a título de exemplo, os refugiados, os idosos, as pessoas com deficiência, as crianças com necessidades educativas especiais, as pessoas com problemas de saúde mental, entre outras, deverão ter sempre presente que se tratam, indubitavelmente e tão somente, de pessoas que necessitam de ser tratadas como tal. Estarão corretas todas as representações que tiverem em consideração o direito das PESSOAS existirem e perseverarem, em paz, na existência.
Os refugiados são pessoas que, na sua maioria, como todas as outras, em qualquer geografia, procuram viver em paz e encontrando um clima de cuidado e aceitação, acabam por acrescentar valor às sociedades que os acolhem, não nos esquecendo nós que muitos deles são pessoas altamente capacitadas nas mais diversas áreas.
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