A reportagem da jornalista Catarina Santos é um excelente recurso pedagógico que retrata e contextualiza operações de salvamento dos refugiados e os procedimentos de acolhimento.
De facto, o elevado número de refugiados que tem chegado à Europa exige uma resposta rápida e eficaz. Os dados da reportagem apontam, em minha opinião para dois tipos de modelos.
Um modelo de intervenção em crise, destinado a ajudar um grupo de indivíduos a ultrapassar situações traumáticas de modo a minorar, no imediato, os danos físicos, psicológicos ou estigmas emocionais a que foram sujeitos. Há que salvar os indivíduos de um eventual naufrágio, com já aconteceu por diversas vezes. Há vidas em perigo e, portanto, a Marinha tem uma resposta rápida e eficaz e as associações humanitárias prosseguem esse apoio mobilizando os recursos necessários para um acolhimento em campos de refugiados, esperando pelas etapas seguintes.
Este modelo não resolve, no entanto, os problemas efetivos dos refugiados.
O trabalho social pressupõe uma resposta rápida e eficaz, uma intervenção ativia e directiva, uma primeira ajuda social com o objectivo de apoiar o individuo, criando condições para um estado de conforto emocional que lhe permita enfrentar a vida.
Ultrapassada esta situação da sobrevivência ao naufrágio, há que encontrar outras estratégias. Todos os modelos de intervenção social têm pontos fortes, uns são mais eficazes e outros menos, dependendo do contexto em que são aplicados. Neste caso, os problemas têm que ser resolvidos de forma rápida e inclusiva, com horizontes temporais de resolução de não podem ser demasiado longos, porque estamos a lidar com grupos muito fragilizados.
Na reportagem, é visível a preocupação da integração, do domínio da língua do país de acolhimento, tão importante para a inclusão do individuo. Mas há que definir as estratégias para que o individuo possa ter uma habitação, acesso à educação, saúde e emprego. A aposta neste último aspeto é fundamental para que, progressivamente, o individuo adquira autonomia e se sinta plenamente integrado.
Neste contexto, o modelo centrado na tarefa, desenvolvido em trabalho colaborativo, parece-me ser ajustado à resolução dos problemas porque desenvolve estratégias de resolução de problemas assente numa metodologia que me parece credível: selecção do(s) problema(s), definição das estratégias de resolução, análise dos resultados e negociação e definição de limites temporais para resolução do problema.
Suponho que este modelo, à semelhança de outros, aposte no trabalho em rede, com a colaboração de diversos parceiros e, assim sendo, torna o trabalho mais consistente.
No que se refere à situação de Portugal, julgo que temos desenvolvido um bom trabalho quanto ao acolhimento, sendo já considerado um “país de asilo” solidário. A ideia de trabalhar em rede com os municípios acho que foi interessante e consensual, permitindo rentabilizar os recursos existentes e oferecendo as melhores condições de integração.
Parece-me que no caso de Portugal, o tema dos refugiados não foi tratado com leveza, mas com uma estratégia cuidada e eficaz. Atrevo-me a afirmar que os princípios de acção da metodologia AFIR estão presentes na política de acolhimento dos refugiados em Portugal.
Aliás, desde 1991 que Portugal tem um CPR, Conselho Português para os Refugiados, com estruturas de acolhimento que promovem a inclusão.
Assim, tudo indica que Portugal antecipa e avalia as situações (com equipas e recursos que diagnosticam as situações, identificam pontos fracos e fortes, segundo uma matriz de análise swot), fomenta e forma (o desenvolvimento de parcerias e qualificam os recursos humanos para melhor responder às necessidades), implica e intervém (com implicação ativa dos refugiados e dos parceiros para a definição de linhas de ação conjuntas e consistentes), robustece e divulga (para que a coesão social seja uma prática efectiva e para que se divulguem as boas práticas, aprendendo uns com os outros).
Em suma, não podemos deixar esta problemática ao sabor das políticas emergentes que parecem apontar no sentido da exclusão. É necessário apostar no trabalho social colaborativo das instituições e pressionar o poder político a assumir as suas responsabilidades humanitárias, desenvolvendo metodologias eficazes e promotoras da inclusão social e territorial.
Fez uma excelente apropriação dos recursos de apoio e explica muito bem as suas opções. Concordo consigo. Num primeiro momento é sem dúvida um modelo de intervenção em crise, posteriormente pode muito bem aplicar-se o modelo de intervenção centrado na tarefa. Ou outro. Ou vários, porque os grupos também são diversificados.
É uma realidade. Todos os modelos têm pontos fortes e pontos fracos. A opção por uma abordagem ou por outra tem mais a ver com a situação concreta do que com os conteúdos específicos de cada modelo. Não há receitas prontas a aplicar... cada caso é um caso. O fundamental é que as nossas opções sejam feitas com conhecimento e informação para que possam ser eficazes. Ninguém melhor para nos falar das suas necessidades que os próprios que as estão a sentir...
Trabalho em rede, implicação dos envolvidos, monitorização e avaliação... difusão e reforço.
Muito obrigada pela sua participação :)
PSS
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