De facto, é muito fácil (e contra mim falo) dizer o que devia ser feito e como devia ser feito, mas sabemos que no terreno, as situações são sempre diferentes e há vários obstáculos/desafios, etc.
Acho que existe uma junção de diferentes modelos, também porque há uma junção de fatores e situações, que exigem diferentes respostas.
O modelo de intervenção em crise, porque esta pessoas fogem de uma crise e chegam em crise, é necessário dar respostas rápidas a necessidades básicas - comida, alojamento, saúde, segurança, etc, etc.
E depois, se há algumas necessidades e respostas globais de todo (ou da maioria) o grupo de migrantes que chegam nestas condições e que vão sendo desenvolvidas ao logo do tempo, também é necessário gerir caso a caso. Uma mãe que chegou com três filhos, é diferente de um jovem que chegou sozinho, que é diferente de um homem que chega com problemas graves de saúde. Não descurando a visão humanista, uma vez que estamos a lidar com pessoas, em crise, que enfrentam uma enorme mudança na sua vida, mas que principalmente já passaram por muita coisa, e portanto temos também de ter uma visão sistémica/ecológica que nos ajuda a compreender a pessoa que temos à nossa frente. Para mim, essa é a grande complexidade da intervenção no terreno nestas situações: há um enorme número de necessidades para dar resposta. Uma só entidade não poderá fazê-lo sozinha, mas muitas vezes também não consegue deixar de fazê-lo pela relação que já criou com as pessoas.
Em Portugal teríamos também muita gente a reclamar e a desconfiar. Aliás, quando se começou a falar de acolher refugiados em Portugal, houve muita polémica, precisamente porque pensámos logo "Em vez de ajudarmos os nossos, vamos ajudar esses que vêm daqueles países perigosos, e que só vão trazer problemas". Não é uma situação fácil de gerir. Mas tal como foi dito na reportagem quando estas pessoas contam a sua verdadeira história, normalmente deixam de ser vistas como ameaças, porque nenhum de nós consegue sequer imaginar a realidade pela qual tiveram que passar. Então, nestas intervenções é importante também ter a parte da sensibilização da população e desmistificar essa questão de que "eles vêm roubar os nossos apoios". Por outro lado, também não pode haver um exagero nesse apoio. As pessoas não precisam de uma casa toda xpto para viverem, se sentirem apoiadas e seguras. Mas precisam das condições mínimas de segurança e subsistência. E qualquer um de nós que tivesse passado metade estas pessoas passou iria agradecer receber o mesmo. Acredito que há várias Associações que poderiam ajudar e que já vão desenvolvendo o seu fantástico trabalho com os refugiados que entretanto Portugal tem recebido, em muito menos número que outros países. Claro que é bom ir fazendo as coisas a pouco e pouco, pequenos passos e estruturar a intervenção. Mas há sempre quem tenha que estar na linha da frente, porque as pessoas não têm tempo para esperar até que esteja tudo preparado para os receber em segurança e nas devidas condições.
Cara Inês
Excelente reflexão. Concordo consigo. Por vezes não é preciso fazer muito, basta fazer diferente e melhor... É um facto que é importantíssimo trabalhar com as populações de acolhimento; todos os intervenientes no processo contribuem para que o mesmo seja mais eficaz, para optimizar recursos, para conduzir à autonomização o mais rapidamente possível.
Obrigada pela sua participação,
PSS
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